quarta-feira , 12 março 2025
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Manifestantes protestam contra transfobia em clínica de Campo Grande

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Na tarde desta quarta-feira (5), um grupo de moradores se reuniu em frente a uma clínica particular para protestar contra falas transfóbicas proferidas por um médico a uma paciente na noite de terça-feira (4). A vítima, uma mulher transexual de 46 anos, relatou que o profissional se recusou a entregar os resultados de seus exames, sob a alegação de que ela teria apresentado um documento falso.

Conforme registrado no boletim de ocorrência, ao negar a continuidade do atendimento, o médico teria afirmado: “Você não é mulher, você é homem”, questionando o porquê de a paciente se identificar com um nome feminino.

Protesto exige retratação e respeito

Indignada com a situação, a vítima organizou um protesto junto a amigos e familiares, cobrando um posicionamento da clínica sobre a conduta do profissional. Durante a manifestação, ela relatou ainda que, ao chamar sua irmã para acompanhá-la, o médico teria proferido ofensas racistas e misóginas contra ela.

“Ele me acusou de falsidade ideológica, falou que eu não era mulher, era um homem. Depois, quando chamei minha irmã, ele fez ofensas racistas e misóginas contra ela. Ele pegou as coisas dele e fugiu. Falei pra ele: ‘vai fugir, doutor?’. Aí eu me questiono: por que ele não chamou a polícia? Se eu estou sendo acusada de falsidade ideológica, por que ele não quis chamar a polícia? Mas foi isso o que fizemos. Nós sofremos ofensas racistas, transfóbicas e misóginas. A polícia veio aqui e a gerente desceu, ‘passando o pano’ para o opressor”, relatou.

A irmã da vítima, Cynthia Ribeiro Pereira, de 43 anos, explicou que a paciente já enfrentava dificuldades de acesso a serviços de saúde devido ao receio de sofrer discriminação. “Quando ela saiu da sala, não acreditei. Ela tem resistência de ir ao médico e ontem descobri o motivo. Aí caiu a minha ficha do porquê ela não queria fazer o exame, era o medo de ser tratada mal”.

A professora e artista Emy Mateus Santos, de 25 anos, esteve presente na manifestação e cobrou responsabilização pelo ocorrido. “Ela veio para ser cuidada e acabou violentada, mais uma vítima de preconceito em um espaço que era para ela encontrar cuidado. O espaço deveria se responsabilizar, prestar solidariedade a ela e tomar uma postura contra o médico que fez isso”, pontuou.

A psicóloga Ladielly de Souza Silva, 28 anos, também prestou solidariedade à vítima. “Eu vim aqui em apoio a ela. Foi uma série de violações dentro de um consultório, é um absurdo essa situação, um crime de ódio. Saber que uma pessoa foi desrespeitada e violentada mexe com todas nós”.

Posicionamento de entidades e da clínica

Em nota, a Associação das Travestis e Transexuais de Mato Grosso do Sul manifestou repúdio à conduta do profissional. “A LGBTfobia é uma forma de violência que perpetua o ódio, a exclusão e a desumanização de indivíduos que simplesmente desejam viver suas vidas com dignidade e respeito. O caso de Loren é um lembrete doloroso de que ainda temos um longo caminho a percorrer na luta por igualdade e respeito aos direitos humanos de todos”, diz o comunicado.

A clínica se manifestou através de nota, informando “total repúdio com a situação recente ocorrida no dia 04 de fevereiro de 2025, entre paciente e médico nas dependências desta clínica e qualquer forma de discriminação, violência ou preconceito contra a comunidade LGBTQIAPN+”.

O comunicado ainda ressaltou que a clínica “compromete-se com a promoção da igualdade, do respeito e da diversidade, princípios fundamentais para a construção de uma sociedade mais justa e inclusiva”, e afirmou que “a empresa tomará as medidas cabíveis para que tal ato não ocorra posteriormente”. O médico, que é terceirizado, teve sua agenda suspensa enquanto o caso é apurado.

Apuração pelo CRM-MS

O Conselho Regional de Medicina de Mato Grosso do Sul (CRM-MS) foi procurado e declarou que todas as denúncias recebidas são devidamente investigadas conforme a legislação vigente. O órgão informou que, ao receber a denúncia, é instaurada uma sindicância para análise dos fatos, seguida das investigações necessárias e adoção das providências cabíveis.

“O CRM/MS reafirma seu compromisso com a fiscalização do exercício profissional e a preservação da ética médica em benefício da sociedade”, destacou o órgão em nota.

 

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