A professora Emy Matheus Santos se manifestou após críticas do deputado estadual João Henrique Catan (PL) sobre a recepção de alunos na Escola Municipal Irmã Zorzi, em Campo Grande. O parlamentar questionou a vestimenta utilizada pela docente no primeiro dia de aula e a divulgação de imagens das crianças em redes sociais.
O que aconteceu?
Emy explicou que foi convidada a se fantasiar para acolher os alunos de forma lúdica e especial. “Fui convidada a me fantasiar para receber as crianças de forma diferente para o primeiro dia de aula”, afirmou a profissional nesta terça-feira (11). A atividade, segundo a Secretaria Municipal de Educação (Semed), é um recurso pedagógico comum em eventos escolares e estratégias didáticas para incentivar a participação dos alunos.
Durante sessão na Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul (Alems), Catan exibiu o vídeo da recepção dos estudantes e criticou a prática. “Fantasiado de travesti. Essa é a vestimenta para ir à sala de aula dar aula para as crianças? Eu quero saber se isso está no conteúdo de ensino, o que isso contribui para o aprendizado?”, questionou o deputado.
Resposta da professora
Diante das críticas, Emy usou as redes sociais para se posicionar. “Sou uma profissional, uma educadora, estudei para isso, sou uma mulher trans, sou travesti, essa é minha identidade”, declarou.
A professora ressaltou que o evento teve caráter pedagógico e estava dentro das normas escolares. “Arte é arte, foi um dia especial na escola. Meu plano de aula está correto, tudo encaminhado com muito cuidado, trabalhando a criatividade e a imaginação das crianças”, disse.
Ela também reforçou sua legitimidade profissional. “Tenho meus documentos retificados, tenho diploma, tenho família e sou muito respeitada, porque minha vida é lutar para um mundo melhor e sem preconceito! Espero que a justiça seja feita!”. Após a repercussão, Emy apagou o vídeo das redes sociais.
Debate sobre a educação e uso de celular
O episódio reacendeu discussões sobre o uso de celulares nas escolas. O deputado Catan defendeu que o caso seria uma prova de que a proibição dos aparelhos impede os alunos de fiscalizar a atuação dos professores.
Já o deputado Rinaldo Modesto (Podemos) afirmou que se trata de um caso isolado e que é preciso evitar comportamentos que, segundo ele, “deturpem a formação das crianças”.
A deputada Gleice Jane (PT), por outro lado, criticou as declarações de Catan, classificando o discurso como homofóbico e agressivo. “Hoje o crime de homofobia é equiparado ao crime de racismo. Uma mulher transexual tem o direito de ser professora, de ser deputada. A transição de gênero não tem qualquer relação com conotação sexual. Precisamos entender o que é homofobia e educação. E o que a gente viu aqui foi um conteúdo homofóbico e criminoso, que estimula a morte de mulheres trans no estado”, declarou.
Próximos passos
O presidente da Assembleia Legislativa, Gerson Claro (PP), afirmou que o caso será retomado para mais esclarecimentos. Além disso, Catan disse que levaria o tema aos vereadores do Partido Liberal na Câmara Municipal para que seja apurado no âmbito municipal.
O episódio continua repercutindo e reacendendo o debate sobre inclusão, liberdade pedagógica e direitos da população trans no ambiente escolar.
Coitada dessas crianças….